19 de fevereiro de 2009

Poetas românticos

Numa certa aula de literatura portuguesa, ocupada entre conseguir ficar acordada, resistindo ao impressionante poder sonífero da voz de minha professora, e preencher as últimas folhas dos meus cadernos com poesias e/ou músicas em inglês, rabiscos e/ou tentativas frustradas de desenhos, ou qualquer pequena anotação cuja origem e propósito não consigo me lembrar depois, entreouvi a professora comentar algo mais ou menos como: "A grande maioria dos poetas românticos morria muito cedo, fosse devido à tuberculose, fosse pelo abuso de álcool, pelo suicídio, ou uma combinação destes. Não costumavam passar dos 23, 24 anos. Imagine se estes poetas tivessem amadurecido, que obras maravilhosas que poderiam ter produzido!"
Dizer que aí eu acordei seria exigir demais de tal aula, mas aquilo grudou no fundo do meu cérebro e virou motivo de uma pequena anotação nas últimas folhas do caderno, como lembrete para desenvolver mais aquela ideia. O que me chamou a atenção foi que eu discordava completamente daquele comentário, apesar de não ter nenhuma capacidade física de erguer a mão e debater minhas ideias com a professora no estado letárgico em que me encontrava. Então, virou inspiração pra post.
Resumo-relâmpago das características das obras românticas: tom melancólico, amores impossíveis, evasão para o passado, a natureza, ou a morte, o que parecer mais promissor ao autor. No geral, depressivo. Será que se atingissem os 40, 45 anos de idade, ainda estariam tratando dos mesmos temas? Eu certamente não escrevo agora sobre os mesmos assuntos de alguns anos atrás, nem mesmo dessa mesma época no ano passado. Será então que suas obras teriam o mesmo atrativo?
Parafraseando alguns professores meus, "ó, galera, préstenção aqui, ó". As angústias e a visão pessimista e melancólica dos autores românticos me parecem, de minha perspectiva adolescente e talvez exageradamente simplista, tipicamente jovens, ainda que sejam jovens de uma época e realidade completamente diferentes. E, claro, talvez sua técnica melhorasse. Mas o que garante que depois de alguns anos, quando toda aquela emoção se esvaísse e desse lugar a uma vida mais acomodada, mais "madura", suas obras ainda seriam tão interessantes? Encontrariam eles mesma motivação para escrever em outros temas?
Na escrita, mais importante do que a técnica, a meu ver, é a emoção imprimida ao texto, a cada palavra. É como aquele velho clichê de propaganda, "tempero de comida de mãe é o amor". (Mas se o amor estiver faltando aí, compre nosso cubinho de caldo de carne, vai dar no mesmo.) Então vou continuar aproveitando meus turbilhões hormonais para escrever.

Um comentário:

João Paulo X. disse...

Putz, eu achei que só eu me inspirava em frases que eu ouço no dia-a-dia.
O.o
Enfim, concordo parcialmente, mas estou sem capacidade de debater nesse momento.
;D